A instabilidade do ombro é uma condição complexa que requer análise detalhada. Define-se como a recorrência de episódios de luxação na articulação do ombro, uma situação comum em pessoas jovens, especialmente atletas que praticam esportes que envolvem os membros superiores, como tênis, natação ou baseball. Aqui, o termo “luxação” refere-se à perda de contato entre os ossos da articulação, e não a uma simples contusão, como frequentemente se confunde.
O primeiro episódio de luxação geralmente resulta de um trauma significativo, como uma queda durante a prática esportiva. Nessas situações, o braço é levado a uma posição forçada que faz com que a cabeça do úmero saia de sua posição na cavidade glenoidal. Esse trauma inicial tende a causar lesão no ligamento anterior da articulação, que muitas vezes não cicatriza de forma completa, predispondo a novos episódios de luxação.
Com o passar do tempo e o aumento do número de luxações, a instabilidade da articulação se agrava, podendo ocorrer em situações do cotidiano, como vestir um paletó ou até mesmo durante o sono. Após o primeiro episódio, é fundamental realizar a redução articular o mais rapidamente possível, preferencialmente em um pronto-socorro, para minimizar danos adicionais. Exames de imagem, como radiografias, são indispensáveis para diferenciar entre luxação e fratura, evitando tentativas de redução inadequadas que possam causar complicações graves.
Tratamento inicial e reabilitação
Após a redução da luxação, a articulação deve ser imobilizada por um período de 3 a 4 semanas, utilizando-se uma tipóia para permitir a cicatrização do ligamento lesado. Entretanto, mesmo com tratamento adequado, a chance de recorrência é alta. A reabilitação, com foco no fortalecimento da musculatura profunda do ombro, pode auxiliar na estabilidade, mas há uma tendência crescente para a reparação artroscópica do ligamento logo após o primeiro episódio, especialmente em pacientes ativos, devido ao elevado risco de novas luxações.
Tratamento cirúrgico
Quando o tratamento conservador não é eficaz ou as luxações se tornam frequentes, a cirurgia se torna necessária. A reconstrução do ligamento anterior é considerada a melhor abordagem, pois evita novos episódios de luxação sem comprometer a amplitude de movimento da articulação. Nos últimos anos, a artroscopia tem sido amplamente utilizada para esse procedimento, oferecendo uma técnica minimamente invasiva, com menores cicatrizes e menor índice de complicações.
A necessidade de cirurgia permanece mesmo se o paciente decidir abandonar o esporte que praticava, pois as luxações recorrentes podem ocorrer em atividades do dia a dia e trazer riscos à vida, como durante a condução de um veículo ou ao nadar no mar. Além disso, episódios repetidos podem causar danos secundários, como desgaste ósseo e desenvolvimento de osteoartrose, uma condição mais difícil de tratar e que limita os movimentos e atividades.